Antes só do que mal acompanhada

Os meus amigos andaram reclamando que eu estava “anti-social”.
Não aceitava convites para sair e ficava muito tempo em casa.
Antes de argumentar, parei para pensar e vi que tinham razão... andei meio reclusa nos últimos dias.

Então aceitei o convite deles e resolvi voltar a sair... fomos à um barzinho bem famoso da cidade.

Logo na chegada, uma fila gigantesca para entrar... não consigo fazer essa conta:
Bar aberto grande e vazio X Fila imensa do lado de fora
Enfim... deve haver um motivo plausível que justifique.

A noite tem início... a banda está tocando e todos começam a beber e se divertir.
Então vem a pergunta: é proibido sair apenas para dançar e dar risada com os amigos? Necessariamente, preciso ficar com alguém?
Eu juro que até gostaria, mas ao chegar no ambiente me deparo com o seguinte público masculino: garotões malhados, usando boné, camisetas com decote em “V”, correntes enormes no pescoço e cuecas aparecendo.
Concluo logo que será difícil me interessar por algum deles, apesar de me achar uma mulher sem preconceitos.

Tento passar por cima do meu julgamento e começo a ter boa vontade para encarar alguns olhares... o primeiro se aproxima e diz: “E aí? Curtindo?”
Digo que sim, mas fico com medo de que a segunda frase seja tão elaborada quanto a primeira, então invento que preciso ir ao banheiro e me mando!

O segundo é um agenciador: “Oi, o meu amigo aqui gostou de você e quer te conhecer, como é seu nome?
Pergunto se o amigo dele é mudo, eles riem e sequer percebem o meu sarcasmo.
Invento que vou fumar (eu não fumo) e saio!

O terceiro saiu do vácuo... vou passando para ir ao bar, ele me puxa pelo braço e já vai encostando a boca no meu rosto e me dando um beijo.
Faço cara de nojo, arranco o meu braço das mãos dele e percebo que o rapaz sequer se incomodou e já foi atacando uma outra mulher que estava atrás de mim.

Mas houve um que era diferente! Se destacava do estilo liquidação que toda a tribo de homens se vestiam. Tinha um olhar lindo, parecia ter algo inteligente a dizer e ameaçava um sorriso perfeito. Não acreditei que estivesse olhando para mim e resolvi mudar de lugar para fazer o teste... quando olhei, ele tinha se virado e continuava me olhando.
Opa! Esse está aprovado... vou esperar a deixa para uma aproximação.
Mas não houve a deixa... e nem a aproximação! O rapaz estava apenas exercitando as suas táticas de sedução, enquanto a namorada ia ao banheiro com uma outra amiga. E o pior é que mesmo ela voltando e ficando ao lado, ele continuou me olhando... óbvio que ele se tornou o pior de todos.
Não tenho paciência para homens que não respeitam as namoradas.

Tá... então lá vem o meu racional, sempre tão cruel, repetir que homens interessantes são na maioria, comprometidos ou gays.
Brigo com ele e me recuso a acreditar nisso. Ele volta e me pergunta então, porque eu não me interessei por nenhum dos solteiros heteros que estavam lá.
Rebato dizendo que talvez ali não seja o melhor lugar para encontrar alguém bacana.
Ele me chama de preconceituosa, exigente e diz que eu “me acho”!
Fico puta e digo que jamais vou voltar a ouví-lo novamente... que a partir daquele momento serei totalmente passional.
Ele volta com a palavra final e grita: então pode começar a ser passional agora, já chorando e dizendo que ninguém te ama e ninguém te quer.

Acho um acinte e me permito mais umas doses de vodka para exterminar todo o racional que me restava. Sujeitinho mais hostil!!!

Depois de descartar as possibilidades de beijar na boca, me jogo na pista de dança com os meus amigos e me divirto muito mais do que o esperado!
Nesse momento... sem razão e sem emoção... apenas corpo e sentidos.

Tudo isso só faz reforçar um pensamento que sempre me acompanha: não saia para se divertir apostando em conseguir companhia... seja feliz mesmo quando terminar a noite sozinho... as vezes é bem melhor que terminar mal acompanhado.